Espaços Enclausurados

Venerable Simeon

Venerable Simeon

Venerable Simeon. Pantoleon. Miniature from the Menologion of Basil II (Fol. 2). circa 1000 AD

Venerable Simeon

 

Title Espaços Enclausurados Contemporâneos: Uma linguagem intemporal
Year 2012
Notes 2º Seminário Internacional da AEAULP, Lisboa, 2012.
Citation Paulouro Neves, J. P. L. (2012). Espaços enclausurados contemporâneos: Uma linguagemintemporal. In Palcos da arquitetura (1 ed., Vol. 1, pp. 463-471). Lisboa: Academia de Escolasde Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa. ISBN: 978-972-9346-27-9.
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Embora nas ultimas décadas o espaço imaterial sócio-político se tenha tornado progressivamente fluido, as espacialidades físicas sócio-urbanas encontram-se crescentemente fragmentadas e fortificadas; uma situação afavelmente denominada como um retorno a formas medievais de habitação fortificada. Ao derivar a segregação sócio- urbana moderna do advento de formas disciplinares de enclausuramento da Europa do século XVIII, Foucault atribuiu essa fragmentação ao poder estatal ou institucional (Foucault, 2006). Presentemente, no entanto, estudo académicos colocam tal advento séculos antes, se não milénios, e, particularmente, derivado não de um controlo institucional, mas da penitência religiosa e de ideologias de governação limitada (Geltner, 2008). Paradigmas desde o encarceramento monástico e a ‘eremitania’ religiosa na Europa do século XIII, à segregação fortificada na China do século IX, apontam para uma longa história de segregação sócio-urbana através da fortificação individual.

Fortificações urbanas contemporâneas, tais como as comunidades de aposentados e zonas de segurança americanas (Blakely & Snyder, 1997), condomínios fechados brasileiros (Caldeira, 2000), ‘cidades muradas’ chilenas (Borsdorf & Hidalgo, 2008), ou ‘arquipélagos fechados’ internacionais (Duffield, 2010) são geralmente atribuídos ao anseio de uma maior segurança. Convém lembrar, porém, que não só estas tipologias tendem a promover uma maior insegurança (Davis, 1992), como têm surgido não de um maior grau de controlo institucional – como uma avaliação Foucaultiana da sociedade disciplinar nos leccionaria – mas sim através de um maior grau de liberdade individual, proliferando na América após 1970 com o liberalismo neoclássico, e no Brasil com a redemocratização da década de 1980.

Tal reavaliação da tese de Foucault tem implicações profundas para o estudo de formas contemporâneas de exclusão urbana, ao se considerar que a principal tipologia pioneira dessa exclusão não provém de um controlo institucional mas sim de discriminação individual, representando tanto uma incompreensão como um risco do processo democrático de urbanidades contemporâneas, reclamando assim, igualmente, uma reavaliação da relação da arquitectura com o indivíduo.