Stultifera Navis

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Título Stultifera Navis
Ano 2006
Localização Habitação urbana
Enunciado Carcavelos, Portugal
Observações Exibido no Centro Cultural de Cascais, no âmbito da exposição “Cidade Dual”, 2006

Dentro da internet existe um submundo: pseudónimos, existências paralelas, sonhos, fantasias. Dentro da cidade, este submundo toma também forma no domínio físico mas de uma maneira mais privada, menos exposta.

Estes submundos são meramente grupos de pessoas com interesses similares no mesmo ponto no tempo, juntando se para realizar os seus sonhos e visões. Quer sejam grupos racistas (KKK, fundamentalistas islâmicos), políticos (neonazis, anarquistas), sexuais (fetichistas, transexuais), físicos (piercing, violência individual/de grupo), ou outros, todos fazem parte da nossa cidade. Mas esta já não os acomoda, ao ponto que encontraram o seu melhor e mais bem sucedido lugar de associação no domínio virtual dos servidores de rede e na internet. Apesar de inevitavelmente certas congregações, devido às suas próprias características, necessitarem de se exprimir dentro de domínios privados fora da vista do público, as nossas cidades correm o risco de se tornarem lugares desumanos que negam o direito rudimentar dos seres humanos de serem livres, de serem loucos. Que negam a nossa própria herança de animais de carne e sangue.

Ao começarmos a caminhada no século XXI, as nossas cidades e casas têm se tornado mais digitalizadas, robotizadas, funcionando de acordo com regras sempre mais científicas e binárias, de zeros e uns, sim e não. Se alguns destes avanços podem indubitavelmente trazer nos mais conforto e beneficiar a raça humana, em outros casos – especialmente nos ambientes comunitários, onde a cidade personifica a sua mais alta forma – também deles se podem colher desvantagens e uma lenta decomposição e morte através da informatização de hábitos, condições de vida, crenças, desejos e necessidades.

O que se propõe é um regresso às raízes humanas; não em termos de tradição, condições ou convenções, mas um retorno aos nossos instintos mais primariamente puros, não pervertidos pelas normas da lei e das convenções. Uma compreensão que todos somos animais, guiados por elementos, internos e externos, conscientes ou inconscientes, que não podemos compreender.

A nave dos loucos foi uma invenção do século XV – estranhos barcos carregando homens loucos numa perpétua viagem ao longo dos rios e canais do norte da Europa. Consistiu no primeiro ritual activo para expulsar indivíduos indesejáveis e proteger valores morais. De certo modo, foi o precursor dos hospícios sociais, prisões, e posteriormente, da urbanização modernista do século XX. Os espaços de reclusão têm sido normalmente estudados a partir de um ponto de vista exterior – eram pouco mais do que espaços de exclusão. Mas podem igualmente constituir espaços onde “as almas sucumbem às tentações do mundo”. Esta é a premissa de uma estrutura urbana de reclusão construída nos arredores de Lisboa.

Como o Hermitage na ‘Arca da Rusia’ de Sokurov, é uma prisão premeditada, navegando sem fim através de um mar de degradação urbana.