Recreio Dividido

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Titulo Parque de Recreio Dividido
Ano 2006
Localização Carcavelos, Portugal
Enunciado Ocupação suburbana
Observações Exibido no Centro Cultural de Cascais, no âmbito da exposição “Cidade Dual”, 2006

Eliminação de divisões sociais e raciais através da criação de muros e barreiras divisórias de acordo com preconceitos raciais e sociais. Neste projecto o muro de Berlim é considerado como a mais eficaz ferramenta construída na integração de culturas e crenças múltiplas da Europa Central – a sua construção, um sacrifício necessário a fim de que o acto da sua destruição pudesse cumprir a maior onda de integração social popular da história europeia. A criação de estruturas muradas em Lisboa é pretendida como um tratamento de choque a uma sociedade hipócrita. A destruição destas estruturas é inerente no projecto. Uma situação onde a destruição e a morte de um objecto arquitectónico são a premissa e o conceito do próprio projecto.

Numa sociedade mais globalizada existem somente dois possíveis resultados: um mundo de maior compreensão, de respeito por todos os credos e nações, livre de racismo e de preconceitos. Ou, um mundo de crescente proteccionismo, temendo quaisquer credos e nações estrangeiras, alimentado pelo racismo e pela intolerância. A primeira possibilidade é uma utopia não concretizável. Pertence à terra dos sonhos. A segunda, parece ser o nosso legado às gerações futuras. Neste, o único resultado final é a violência. Infelizmente é também a sua única saída e solução.

O desenvolvimento suburbano tende a seguir as mesmas estratégias da corrida ao ouro, das conquistas militares e dos colonatos civis. A demarcação e a apropriação do espaço por áreas muradas constituem uma parte vital no desenvolvimento material e social da cidade suburbana. Porém, determinados muros psicológicos e escondidos , formam uma parte muito maior na segregação racial e social dos subúrbios.

É nas áreas derrelictas dos subúrbios que o futuro das relações sociais toma forma. Nesse futuro, diversas religiões serão seguidas, múltiplas línguas serão faladas, várias raças estabelecer-se-ão. Este país e esta cidade não estão preparados para aceitar inputs estrangeiros. Múltiplas barreiras raciais e sociais estão sendo continuamente erigidas; quer seja através de instituições e politicas oficiais sob a bandeira de proteger o interesse local, seja pela discriminação no emprego e na habitação, ou por pressões de pais nas escolas para rejeitar ciganos e outros elementos estrangeiros. Entretanto, chamamo-nos um país aberto, civilizado, cosmopolita, com uma extensa história de relações inter raciais e internacionais. Esta ‘discriminação aceitável’ pode somente gerar crescente violência, racismo, e ignorância. Na esperança de combater contra esta tendência, um muro, contendo uma série de espaços isolados é introduzido no local. Age como um espelho de uma sociedade que estamos criando; um aviso para o futuro. Um parque de recreio, para que os jovens pais dos subúrbios possam treinar as suas crianças a seguir os seus passos.

“O conceito de progresso age como um mecanismo protector para nos salvaguardar dos terrores do futuro.”
in, ‘Provérbios Completos de Muad’Dib’, por a Princessa Irulan.

A proposta para o novo Parque de Recreio da Quinta do Barão não tem nem portas ou aberturas para entrar ou sair. Trepam-se os muros com a ajuda das suas ligações de aço que funcionam como degraus. Presume-se que o espaço acumule o lixo dos arredores – providenciando amplos materiais às crianças com que jogar. O muro é essencialmente uma guerra de quatro espaços – embora uma guerra sem vencedores ou perdedores (uma característica pedagógica deste campo de treino). Os rostos dos soldados deste novo futuro multi racial e cultural são filmados através de câmaras digitais e tecnologia de face-tracking. As suas imagens são sobrepostas criando um rosto transfigurado emblemático do seu mini exército, quer ele seja branco, preto, asiático…

É claro que está no interesse dos pais que os exércitos raciais e nacionais não se cruzem; que os seus genes não se contagiem; que não se toquem uns aos outros. Estamos afinal, no subúrbio. A guerra jogada é portanto vista pelos 4 cubos ecrãs projectando os rostos destes soldados perfeitos. Os cubos operam como um espelho vivo das crianças que utilizam estes espaços. Representando o seu multi culturalismo, ou a falta deste.

Quatro espaços, quatro ecrãs: uma mini guerra de pequenos soldados. Uma estrutura espelho dos desejos racistas dos subúrbios.

Ao invés de ajudar a esconder as muralhas e fragmentações sociais suburbanas, estas são expostas. Ao invés de tecer uma malha racial que está sendo continuamente cortada, desenha se um espaço a partir dos desejos sociais inerentes na população suburbana. Preparamo-nos para o futuro concebendo um espaço de treino para a próxima geração.

Este parque de recreio pretende assim eliminar as divisões sociais e raciais por meio de paredes divisórias e barreiras, em conformidade com preconceitos raciais e sociais. Neste projecto, o Muro de Berlim é considerado como o mais efectivo instrumento edificado para a integração de múltiplas culturas e crenças da Europa Central – e a sua construção afinal um sacrifício necessário a fim de que o acto da sua destruição pudesse cumprir a maior vaga de integração social auto animada da história europeia. A criação de estruturas amuralhadas em Lisboa pretende agir como um tratamento de choque para uma sociedade hipócrita. A destruição destas estruturas está inerente no projecto. Afinal, uma situação em que a destruição e morte de um projecto arquitectónico é a premissa e o conceito sobre os quais ele é construído.